O mistério envolve esta pintura inacabada, verdadeira obra axial do primeiro Modernismo português. Mentor, estímulo e motor do movimento Futurista entre nós, Santa-Rita deixou uma escas-sa produção sendo as suas obras mais emblemá ticas apenas conhecidas através de fotografia – e nenhuma delas apresenta a qualidade radical e coerência formal que esta obra revela. Nela, a assunção dos valores do Cubismo analítico evidencia-se na desconstrução da cabeça em facetas de recorte triangulado e, inusitadamente, curvo. O referente dos olhos, do nariz e do bigode, este metaforizado a partir das aberturas sonoras dos instrumentos de corda, são outros tantos elementos provindos da prática cubista, assim como o pontilhado que se destaca numa das reservas.
Contudo, a utilização estrita do negro e cinzentos de sabor metálico reforça o carácter maquinista da figura, reforçado pela dinâmica curvilínea dos planos, numa síntese inédita entre o Cubismo e o Futurismo proposto por Marinetti. (Raquel Henriques da Silva)
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