CO-2105
Tavares, Odorico. [Carta] 1947 maio 23, Salvador, BA [para]
Candido Portinari, [Rio de Janeiro, RJ]. 2 p. [datilografado]
Prezado Portinari:
Um afetuoso abraço.
Volto ao assunto de minha encomenda de gravados seus, porque não tendo notícias a respeito pelo Edgar Pinheiro e o Alberico Fraga não tendo pegado bem o recado de dona Maria, pelo telefone, disse que “entendera a senhora Portinari explicar que não havia gravados no momento e que se quisesse encomendasse para...” e esquecera o nome.
Você me perdoe a insistência e como o Alberico trouxe uma resposta meio maluca, eu renovo a minha encomenda. Sei a importância se seus gravados e sei que não temos ainda uma consciência a respeito deste gênero das artes plásticas. Agora que começa. Ora, estou pretendendo fazer uma coleção de gravados de artistas brasileiros que represente no futuro a evolução do gênero no nosso país. Tenho três seus de maior importância; mas sucede que você as ofertou a este poeta e, com a dedicatória, a vaidade me levou a colocar em molduras e não em pastas. De maneira que, na minha coleção de gravados, falta o grande Portinari. Daí meu interesse de adquirir gravados seus, de diversas modalidades: águas fortes, pontas secas, monotipias, litografias. Pelo menos duas de cada. Lembro-me que, no dia em que estive aí, na gaveta da mesa da sala da frente, você tinha um bocado delas. Daí voltar ao assunto, já que o Alberico não me soube dar o recado de dona Maria “por não ter percebido bem”. Creio que não vai ser difícil você encontrar duas gravuras de cada modalidade. Neste caso, você poderá usar do primeiro expediente: mandar telefonar para Edgar Pinheiro, Diários Associados, telefone n. 437877 e ele mandará buscar para me enviar. Quanto ao preço, meu caro Portinari, você me cobrará o que achar conveniente. A princípio, cheguei mesmo a falar em determinada quantia, mas me pareceu que foi baixa demais, o que você me desculpará, pois levei em consideração tabela que nada tem que ver com a importância de seu trabalho. Você conhece muito bem da minha paixão pela sua arte para saber quejamais subestimaria materialmente qualquer trabalho seu. O importante, para mim, é ter a minha coleção de gravados enriquecida com seus trabalhos.
Outra coisa importante: o preço que você me fará para o “Menino Esquelético” que vi aí? É um do tamanho 38 x 46, que está no catálogo de São Paulo e de Buenos Aires e que tinha um “pendant” com a “Mulher Chorando”, de igual tamanho e de igual fatura, e que você vendeu em Buenos Aires. Será a minha próxima “loucura”, tenho a impressão.
Quanto ao mural do Teatro Castro Alves, aguarda-se que Alcides e Reis lhe dêem as medidas para o seu orçamento e se efetivar a coisa, pois contamos com a boa vontade de Mangabeira e Anísio.
Você já tem fotografias do “Tiradentes”? Peço, então, que me mande com urgência para que possamos fazer um pequeno “escândalo”, nos nossos jornais. Vi a nota do “Times”.
Recomendações à dona Maria e um abraço afetuoso do seu amigo e admirador certo.
Odorico Tavares
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