"Conheci Iberê quando eu era Chefe do Setor de Cultura da Prefeitura. Era 1960 e eu estava organizando a primeira Semana de Porto Alegre. Na época, ele deu uma entrevista para um jornal dizendo que a cidade era um marasmo na cultura. A palavra picou o orgulho dos gaúchos e ele foi convidado a ir a um debate para apresentar suas ideias. Na sala cabiam no máximo 100 alunos, mas devia ter umas 200 pessoas. Houve muita discussão, até maltrataram o Iberê, mas ele, sempre muito inteligente, se saiu muito bem.
Quando terminou, fui conversar e disse: 'Tenho um espaço livre da Prefeitura, bem central, se tu quiseres te encontrar com os porto-alegrenses, eu cedo esse lugar e tu escolhes um horário.” Iberê respondeu na hora: “Quero sim, às 5h da tarde, porque Porto Alegre é muito quente'. Iniciamos os encontros, e veio muita gente que queria aprender. Compramos tintas, mandamos fazer cavaletes, e passou a ser praticamente um curso de pintura. Iberê avaliava os trabalhos, selecionava.
Em janeiro de 1961, ele tinha que ir embora para o Rio; fizemos então uma reunião com o prefeito Loureiro da Silva e o secretário Carlos de Britto Velho. Iberê sugeriu que aquela experiência tinha que continuar e propôs a criação de 'um Atelier Livre, onde ninguém paga nada, não tem chamada, não tem compromisso de matrícula; a pessoa chega, senta, pinta, e vai embora'. Compramos a ideia e começou o Atelier Livre da Prefeitura. Foi um sucesso! Fiquei quatro anos nesse cargo. Depois, o Atelier teve várias outras sedes. Mas a ideia original foi do Iberê, os louros são dele!"
Depoimento de Istellita da Cunha Knewitz em fevereiro de 2020 para a exposição Iberê Camargo – O Fio de Ariadne. A versão estendida, em vídeo, encontra-se no YouTube da Fundação Iberê.
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