"Uma vez, fui ao Rio de Janeiro e fiz uma visita para conhecer Iberê. Falamos muito sobre cerâmica, porque era um assunto que o interessava. Depois, ele veio para Porto Alegre e deu uma palestra para os professores do Colégio de Aplicação, onde eu dava aulas de arte. Ele quis saber como era a minha maneira de ensinar e respondi que usava os ensinamentos do poema A Flor, do poeta e pintor português Almada Negreiros, e recitei a poesia. Iberê gostou muito! Quando deu um curso aqui, fui várias vezes assistir às suas aulas, para ver como ele ensinava, e ficamos muito amigos.
Um dia, Iberê veio ao meu ateliê e trouxe alguns pratos de porcelana brancos para pintar. Pediu as tintas que queria e fui explicando a ele o comportamento das cores. A tinta no forno tem nuances diferentes, onde tu pintas de maneira leve, a tinta fica com menos espessura, dá um resultado diferente do que quando é carregada. Ele pintou como pinta um pintor - e eu não dei palpites. Os vermelhos, por exemplo, ele carregou bastante, menos do que os pretos. Às vezes a tinta estourava no forno, mas o resultado era muito bonito. Ele não veio para aprender técnicas, veio para ter uma experiência!
Quando pintava, Iberê parecia uma pessoa espontânea para quem estava olhando. Ele era rápido, de vez em quando parava, olhava e depois recomeçava. Era muito sincero. Acho que aprendi bastante apenas olhando ele trabalhar. Tudo vinha com muita força, muito dinamismo, vinha de dentro dele - como diz o poema de Negreiros."
Depoimento de Marianita Linck em fevereiro de 2020 para a exposição Iberê Camargo – O Fio de Ariadne.