Johann Nepomuk Ender Viena, Áustria, 1827 Óleo sobre tela 256 x 180 cm Assinado e datado: "Giovanni Ender pinx, Vienne 1827"
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Detalhes
Título: Infante D. Miguel de Bragança
Descrição detalhada: D. Miguel de Bragança, de seu nome completo Miguel Maria do Patrocínio João Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro de Alcântara António Rafael Gabriel Joaquim José Gonzaga Evaristo de Bragança e Bourbon, foi o sétimo filho de D. João VI e de D. Carlota Joaquina. É aqui retratado com cerca de 25 anos, durante o seu exílio em Viena de Áustria, um ano antes de ser aclamado rei de Portugal.
Neste retrato de aparato, de grandes dimensões, D. Miguel está representado em corpo inteiro, envergando farda militar de gala, casaca preta com botões dourados, bordada a fio de ouro no colarinho, nos punhos e nas dragonas. Calça botas altas com esporas de prata. Ostenta ao pescoço a Ordem Soberana e Militar de Malta e a medalha da Vilafrancada, o golpe de estado absolutista de que fora líder em 1823; ao peito, as placas das Duas Ordens de Cristo e de Avis, da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e da Ordem da Torre e Espada. Na mão direita segura um chapéu com plumas. A mão esquerda, com luva branca, apoia num sabre com bainha.
A pintura apresenta um fundo arquitetónico de exterior de palácio com paisagem montanhosa em último plano. Um cortinado vermelho, sobre o qual se destaca a figura garbosa de D. Miguel, define uma diagonal que divide a pintura em duas metades. O retrato encontra-se assinado e datado pelo seu autor, o pintor austríaco Johann Ender, que o pintou em Viena em 1827.
D. Miguel nasceu no Palácio de Queluz a 26 de outubro de 1802, tendo acompanhado a restante Família Real ao Brasil em 1807, na sequência das invasões napoleónicas, aí vivendo com os sete irmãos uma infância e adolescência despreocupadas. Em 1821 volta a Portugal, onde entretanto eclodira a Revolução Liberal de 1820, tornando-se o líder da oposição absolutista ao regime liberal, juntamente com a mãe, a rainha D. Carlota Joaquina, que se negara a jurar a nova constituição.
Foi responsável por dois golpes de estado em 1823 (a “Vilafrancada”) e em 1824 (a “Abrilada”) na sequência do qual o pai, D. João VI, decide enviá-lo para Viena de Áustria onde permanece de 1824 a 1828. Com a morte do rei, em 1826, abriu-se a questão da sucessão ao trono. D. Pedro, o herdeiro que se tornara entretanto Imperador do Brasil, decide abdicar do trono português em nome da filha, D. Maria da Glória, então com sete anos e, numa solução de compromisso, propõe o seu casamento com o irmão D. Miguel, tio da futura rainha. Este teria que jurar a nova Carta Constitucional que D. Pedro outorgara a Portugal. D. Miguel aceita as condições do irmão e parte para Lisboa onde, à chegada, presta juramento de fidelidade à Constituição e à Rainha, sua prometida mulher. Pouco depois, no entanto, levado pelo entusiasmo de largos sectores da população junto dos quais gozava de grande popularidade, deixa-se proclamar rei pelas Cortes Gerais do Reino, que anulam a vigência da Carta Constitucional. Entre 1828 e 1834 ocupa o trono como rei absoluto, um período sangrento de guerra civil que o opõe ao irmão.
A partir do Porto, onde se encontrava sitiado desde o seu desembarque em 1832, D. Pedro, à frente do exército liberal, luta para repor os direitos da sua filha D. Maria II no trono, o que se verifica dois anos mais tarde com a vitória liberal. D. Miguel é definitivamente deportado do país em 1834. Vive no exílio primeiro na Itália, depois na Inglaterra e, finalmente, na Alemanha, onde casa em 1851 com a princesa Adelaide Sofia de Lowenstein-Werthein-Rochefort de quem teve sete filhos. Morre em Bombach em 1866, com a mágoa de nunca mais ter voltado a Portugal. Cem anos depois o seu corpo foi trasladado para o panteão dos Bragança, na Igreja de S. Vicente de Fora em Lisboa.
O presente retrato vem pela primeira vez referenciado no Inventário dos Móveis do Palácio de 1833, estando exposto no oratório contíguo ao quarto da rainha D. Carlota Joaquina, onde se encontrava protegido por um pano de damasco: “No Oratório, contiguo ao sobredito quarto [onde falleceu a Imperatriz Rainha] (…) hum Painel em grande vulto, com o Retrato do Senhor, Dom Miguel; com sua moldura dourada, e coberto com hum Cobertor de Damasco.” (Quelúz, Inventário dos Móveis do Palácio , ANTT, L.I. / Qta Queluz, Cx. 2-1833, fl. 9). O inventário do Palácio de Queluz de 1851, atribui-lhe já a autoria de Giovanni Ender e refere que foi pintado em Viena.
Tendo em conta a predileção que D. Carlota Joaquina tinha por este filho, compreende-se que tenha querido levar o seu retrato para junto dos seus aposentos privados. Morreu em Queluz em 1830, não chegando a assistir à derrota de D. Miguel e da causa absolutista que ambos defendiam.
A partir do presente retrato de D. Miguel, mas em que este é representado a meio corpo, com uma indumentária mais rica e o colar do Tosão de Ouro, foi aberta em 1827 uma gravura pelo gravador austríaco Franz Xaver Stöber, com a seguinte inscrição “Sua Alteza o Sereníssimo / INFANTE DOM MIGUEL / Regente dos Reinos de Portugal e Algarves e nelles Lugar / Tenente de Sua Magestade Fidelissima”.
SOBRE JOHANN ENDER
Estudou na Academia de Viena e conheceu o sucesso muito cedo como pintor de retratos. Entre 1818 e 1819 acompanhou o seu mecenas, o conde húngaro István Szécheny numa viagem pela Turquia e Grécia. Em 1820 visitou a Itália, tendo passado pela Accademia di San Luca em Roma e produzido pinturas de temas históricos e bíblicos. Depois de ter passado um ano em Paris, voltou a Viena em 1827, o ano em que foi pintado o presente retrato, dedicando-se à miniatura, à gravura, à pintura de história e à pintura de retratos.
O retrato de D. Miguel de Bragança é uma das suas obras mais conseguidas, comparável com o grande retrato de aparato que pintou do conde Ferenc Széchényi (1823), hoje no Museu Nacional Húngaro de Budapeste. Em 1828 o pintor executaria também um retrato da jovem rainha D. Maria II, então prometida do tio D. Miguel, que está na base da gravura aberta por Ignaz Krepp e Franz Stöber, um dos raros retratos em que a soberana é representada de forma informal e sem qualquer atributo real, numa postura e composição muito idênticas aos retratos que o pintor fez de Carolina Augusta da Baviera, imperatriz da Áustria (1820) e da arquiduquesa Henriqueta de Áustria (1829). D. Maria, com cabelos escuros e feições idealizadas, sorri ligeiramente para o observador, segurando com a mão uma luneta de cabo. Na cabeça, um elaborado chapéu de plumas, à moda das elegantes da época, ata com um grande laço sob o queixo.
Na galeria das obras de J. Ender destaca-se ainda o retrato no leito de morte do jovem Duque de Reichstadt (1811-1832), postumamente conhecido por “l'Aiglon”, filho de Napoleão Bonaparte e da arquiduquesa Maria Luisa de Áustria, que D. Miguel conhecera na corte de Viena. Também deste retrato foi aberta uma gravura por Franz Stöber.
Entre 1829 e 1850 Johann Ender foi professor da Academia de Viena. O seu irmão gémeo, Tomas Ender (1793-1795), notabilizou-se como pintor de paisagens e integrou a Missão Austríaca ao Brasil, país onde esteve entre 1817 e 1818, tendo pintado um grande número de aguarelas de grande qualidade e importância iconográfica.
Criador: Johann Nepomuk Ender (Viena, 1793-Viena, 1854)