A Senhora de preto, pintada em Paris, em 1884, ano do seu regresso a Portugal, é sem dúvida uma das obras mais interessantes de António Ramalho. Desconhece-se quem terá sido o modelo desta composição, no entanto, segundo hipótese de José Augusto França, embora sem possibilidade de confirmação por inexistência de documentação precisa, poderá ter sido a mesma exposta no Salon, em 1885, com o título Portrait de Madame.
Com esta obra, Ramalho consubstancia, pela via do retrato, a influência francesa de pintores, de percurso mais individual, como Édouard Manet, ou inseridos numa corrente estética mais abrangente, como o grupo de Barbizon.
Dotado de uma bem resolvida concepção empírica da estética "manetiana", observa-se, contudo, um forte contraste cromático. É um retrato de mulher tipicamente parisiense, pelo seu ar fascinante e ousado, em que a força expressiva, concentrada nos diversos elementos particulares do rosto, apela ao diálogo com o espectador. Pelo seu sorriso insinuante, jovial e atraente, Anastácio Gonçalves chamava-lhe "a minha Gioconda".