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Le Marais

Maria Helena Vieira da Silva1976

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos

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Lisboa, Portugal

MERGULHAR NO ECRÃ
Imagina-se franzina na casa enorme da Rua da Emenda. Não se pode deixar de pensar que essa casa, com uma belíssima caixa de escadas elíptica, em torno da qual se desenvolve, foi fundamental para a tão peculiar sensibilidade para o espaço que Maria Helena Vieira da Silva sempre teve. Há pinturas que quase contam a história dessa extraordinária percepção espacial, desse notável talento para compreender a poética do espaço.
Em 1939, recusada a naturalidade portuguesa ao seu marido, o pintor Arpad Szenes, o casal decide ir para o Rio de Janeiro durante a guerra, onde ficaria até 1947. Durante esses anos, Vieira da Silva iria mudar a natureza da arte brasileira, na medida em que a sua abordagem do espaço, muito influenciada por Joaquín Torres-Garcia (e, talvez, pelas escadas da Rua da Emenda), seria um pólo fundamental para o desenvolvimento posterior do neoconcretismo brasileiro, dominante na década seguinte.
Será, porventura, neste período que a obra de Vieira da Silva iria definir os seus parâmetros marcantes para o futuro: a definição de uma grelha que constrói espaços, tramas de linhas que propõem pontos de fuga para o olhar, jaulas, quartos, câmaras que propõem o afundamento do olhar – o que se antevia desde 1934, desde uma pintura de nome inequívoco, Atelier, Lisbonne, desse mesmo ano.
A partir dessa pesquisa, Vieira da Silva é uma construtora de espaços definidos na ordem do plano óptico, isto é, a partir da teatralização da perspectiva que foi o centro da pintura desde Masaccio até à sua encenação como reflexividade modernista.
Em qualquer caso, nós, portugueses, gostamos de a ver como uma pintora de cá de casa, azulejos e bibliotecas, solidões e ostracismos, exílios e ensimesmamentos. Tudo isso pode ser verdade, mas não é. É muito mais, na acutilância da profundidade do olhar que propõe, no afundamento no interior da pintura, na complexidade joyceana dos planos de narrativas cruzadas, há uma universalidade que a estabelece como uma das artistas relevantes da Europa (e do Brasil) entre as guerras – e depois da Segunda Guerra. Porque poucos conseguiram, como ela, transpor a questão da representação do espaço para a tridimensionalidade, estilhaçado ou multiplicado, mergulhado ou ecrã, perante os olhos. Franzina e misteriosa, lá do fundo da Rua da Emenda, o seu olhar é um flirt permanente com a proposta da pintura de boa parte do último século: como posso acreditar numa imagem que não é verosímil, mas que se coloca como um mergulho para um outro lugar?

Delfim Sardo

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  • Título: Le Marais
  • Criador: Maria Helena Vieira da Silva
  • Data de Criação: 1976
  • Localização: Lisboa
  • Dimensões físicas: 65 x 39 cm
  • Tipo: Pintura
  • Direitos: © Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
  • Material: Têmpera sobre papel
  • Inventário: 228131
  • Fotógrafo: © DMF, Lisboa
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