CO-2721
Leskoschek, Axel; Leskoschek, Marusja. [Carta] 1950 jul. 15,
Viena [para]
Candido Portinari; Maria Portinari,
Paris. 2 p. [manuscrito]
Querido amigo Portinari!
Como infelizmente ainda não posso visitá-lo à Paris eu lhe mando um amigo argentino, Oscar Conti, bom gráfico e companheiro, que vai entregar-lhe os meus abraços e todos os bons desejos para você, Maria e João Candido. Espero que vocês vão bem e que se sente satisfeito entre os nossos amigos em Paris e na França. Aqui a vida é dura e a luta tremenda. Em todas partes se vê ainda os vestígios do Nazismo, porque, como em toda parte, é nutrido pelos nossos velhos antagonistas de Wall Street. Mas somos de toda confiança e você sabe muito bem porque. Falamos no Congresso da Paz em Viena com o seu amigo Lafitte, quem nos deu o seu endereço e com quem falamos sobre vocês com toda essa afeição que temos para vocês. Acho que o meu brasileiro já é pior que nunca, mas vocês vão entendê-lo apesar de tudo, e, em primeiro lugar, vão sentir a veracidade do meu sentimento, Faça favor de
escrever uma vez algumas linhas para sabermos como vocês vivem, como trabalha e o que, e tudo tudo!
Sejam abraçados todos os três do seu velho amigo
Axel
O meu endereço: Axel Leskoschek
Wieu XIX Peter Jordaustrasse 33
P.S. Não querem fazer um pulinho para cá? Seria uma coisa tremenda!
Querida Maria... então, vocês na Europa!
Eu li num jornal suíço que Portinari tinha dificuldades no Brasil – nós pensamos logo que vocês não poderiam ficar em seguida lá. Maria, queria muito abraçar você, nós somos com muita saudade para com os nossos amigos brasileiros. Aqui a vida é um pouco dura em todos os sentidos, a gente muito ocupada (a nossa gente), não tem uma casa como aquela no Cosme Velho (o que saudade!), com tanta gente interessante. Quase todos se reúnem, falam só sobre política, claro – mas, às vezes, queríamos ver e escutar coisas sobre arte, etc. – e isso falta aqui absolutamente. Vocês, felizes em Paris! Por favor, Maria, escreve um pouco sobre a vida lá. Eu penso sempre nas suas palavras “eu posso só viver no Brasil”. Como é agora? Queria muito saber como vai Inês, Olga, os pais no Brodowski e senhora do Paulo Barros (esqueci o primeiro nome dela; não é Marta?) e Josias Leão, onde está agora? É incrível como nós somos “attaché” com Brasil. Até eu tenho ainda um pouco de feijão preto, não queremos comer para ter uma lembrança mais do Brasil! A vida no partido é muito interessante mas dura – tem muito trabalho. Tem uma organização de mulheres onde eu trabalho. Axel, pobrinho, não é muito bem agora. Tem uma gastrite e está num tratamento muito duro. Trabalho artístico quase não tem, eu acho que nós vamos para Berlim para procurar trabalho nas edições do partido. Porque assim não podemos mais continuar. As economias brasileiras botamos num apartamento pequeno. Nosso amigo argentino Oscar Conti vai contar sobre Viena. Je suis sûr que João Candido parle um français merveilleux! Ou est Dino? Maria, eu mando um abraço fortíssimo a toda a família brasileira do Cosme Velho. Sua amiga
Maria