CO-1080
Capanema, Gustavo; Brasil. Ministério da Educação e Saúde. [Carta] 1942 dez. 7, Rio de Janeiro, RJ [para]
Candido Portinari, [Rio de Janeiro, RJ]. [datilografado]
Meu caro Portinari
Guardo na retina a forte impressão de seu quadro – “O Último Baluarte” – que considero uma obra da maior beleza.
Sobre as pinturas para o edifício do Ministério da Educação, penso que não mudarei de idéia quanto aos temas.
No salão de audiências, haverá o doze quadros dos ciclos de nossa vida econômica, ou melhor, dos aspectos fundamentais de nossa evolução econômica. Falta fazer o último – a carnaúba -, mudar de lugar o da borracha, e fazer de novo um que se destruiu.
Na sala de espera, o assunto será o que já disse – a energia nacional representada por expressões da nossa vida popular. No grande painel, deverão figurar o gaúcho, o sertanejo e o jangadeiro. Você deve ler o III capítulo da segunda parte de “Os sertões” de Euclides da Cunha. Aí estão traçados da maneira mais viva os tipos do gaúcho e do sertanejo. Não sei que autor terá descrito o tipo do jangadeiro. Pergunte ao Manuel Bandeira.
No gabinete do Ministro, a idéia que me ocorreu anteontem aí na sua casa parece a melhor: pintar Salomão no julgamento da disputa entre as duas mulheres. Você leia a história no terceiro livro dos Reis, capítulo III, versículos 16-28.
No salão de conferências, a melhor idéia ainda é a primeira: pintar num painel a primeira aula do Brasil (o jesuíta com os índios) e noutro, uma aula de hoje (uma aula de canto).
No salão de exposições, na grande parede do fundo, deverão ser pintadas cenas da vida infantil.
Peço-lhe que faça os necessários estudos e perdoe desde já as minhas impertinências.
Creia no grande apreço e afetuosa estima do seu amigo
a) Capanema
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