Letter

CO-1114 Carpeaux, Helena. [Carta] 1946 out., Rio de Janeiro, RJ [para] Maria Portinari; Candido Portinari, Paris. 2 p. [datilografado] Queridos Portinaris Espero que esta carta chegue a tempo, para trazer-lhes os nossos ardentes votos por um grande êxito da sua exposição, e os parabéns para o dia da inauguração; aliás, quanto ao êxito, não existe dúvida nenhuma que ele será retumbante. Nós outros aqui estaremos, no espírito, junto com vocês nesse grande dia. Agradeço muito a boa carta da cara Maria; e antes de tudo a sua gentileza de receber os meus parentes; estou muito feliz que pelo menos estes terão a sorte de assistir ao grande acontecimento da exposição e da qual vão levar certamente uma lembrança inesquecível para os trópicos africanos. Aqui, tudo continua na mesma monotonia (o meu subconsciente escreveu “melancolia”, que risquei): Otto trabalhando dia e noite, mas atualmente sem ter aquele estímulo que era a recompensa ao fim de semana: a casa de Portinari! Mas felizmente bem sabemos que esse dia também chegará quando vocês voltarão, o dia que já não está muito longe. Contudo, desejaríamos muito, Otto e eu, que vocês fossem também para a Inglaterra, em seu próprio benefício, como no dos ingleses. Quanto ao barulho que houve aí, e pelo qual Maria está interessada, posso lhes dizer que foi apenas um barulho pequeno-burguês, no qual o povo não teve parte alguma; aqueles, preocupam-se com os preços dos cinemas, enquanto o povo tem outras preocupações: o pão que falta e os preços dos gêneros alimentícios que continuam subindo, mas, em troca, os envenenamentos aumentam. Ultimamente há um surto de tifo, e nem se sabe se as vacinas preventivas, que gente está tomando, são autênticas, quer dizer, se elas não são falsificadas. Como vocês vêem, não há motivos para suas saudades, ao contrário, a sua ausência é bem invejável. Mas, felizmente, o dia já não está tão longe, e este será depois a nossa grande festa: a sua volta. O que há com Inês? Será que ela pretende ficar na Europa, na terra de seus pais? Ou trazer um europeu, coitado, para cá? Em todo caso, haja o que houver, meus parabéns! E João? Tem amiguinhos brasileiros ou franceses? A cachorrinha pela qual você, cara Maria, perguntou, e o que muito me comoveu, abana o rabinho e as orelhas compridas, em homenagem a João. Apesar de Otto não estar em casa, para juntar umas palavrinhas carinhosas para vocês, vou terminar e despachar esta carta, com Um grande abraço e felicitações para todos vós, de Helena Carpeaux 2