CO-510
Pancetti, José. [Carta] 1952 jun. 8, Salvador, BA [para] Candido Portinari, Rio de Janeiro, RJ. 3 p. [manuscrito]
Meu caro Portinari
Ao regressar a Salvador procurei logo o Odorico Tavares na redação do Diário de Notícias e falei muito de você, do seu formidável painel para o Banco da Bahia e que eu tive o prazer de ver e admirar, assim como de outros trabalhos seus, que me encheram de entusiasmo. Mas até agora o nosso “ilustre amigo” não publicou nada a esse respeito nos jornais e rádio que dirige. Estava todo preocupado com os festejos da inauguração do novo hotel da Bahia, com a chegada de altas personagens do Rio e com a exposição de um quadro de Van Gogh e outro de Renoir. De fato a festa foi um grande sucesso e rendeu aos “associados” perto de dois milhões.
O Odorico, quando eu cheguei pela primeira vez a Bahia, a convite do mesmo e por insistência, não me deixava um só momento. Fez tudo por mim até conseguir perto de quarenta trabalhos entre óleos em papel, sobre telas e desenhos. Tudo isso por meia dúzia de vinténs e garrafas de vinho. Agora não me conhece mais. Sei, perfeitamente, que a culpa é toda minha, da minha falta de juízo e, sobretudo, do coração. O que mais me revoltou, no entanto, foi ele ter dito ao Clemente que eu vendia barato na Bahia e que o mesmo podia encomendar à vontade. Acontece que eu precisei agora. Telefonei para a casa do Clemente e de lá me responderam que ele estava para viajar, tinha outros negócios mais importantes para resolver e não podia atender-me.
Isto não quer dizer nada. Conheci agora o Odorico por dentro e por fora. Abra os olhos, Portinari. Eu sempre fui um marinheiro nesta vida. Outros jornais publicaram alguma coisa sobre o Jorge Amado e o cineasta Cavalcanti, tendo ocasião de falar sobre você.
Aqui estarei sempre ao seu dispor com a mesma amizade e a grande admiração que lhe devoto.
Recomenda-me a distinta esposa, D. Maria e ao belo garoto – J. Candido.
Um grande abraço
do
J Pancetti.
Hide TranscriptShow Transcript