CO-1565
Dionísio, Mário. [Carta] 1946 ago. 14,
Lisboa [para]
Candido Portinari,
Paris. [datilografado]
Meu caro Candido Portinari:
Obrigadíssimo pelas suas cartas. Só o excessivo trabalho que tenho tido nos últimos tempos me impediu de responder-lhe imediatamente, para agradecer a gentileza das suas informações e a amizade que elas revelam.
Estimamos muito que a sua saúde seja ótima e que tudo que se relaciona com a exposição decorra o melhor possível.
Quanto à minha ida: está assente para o dia 1º de setembro e espero portanto poder dar-vos um abraço no dia 3 ou 4.
Agradeço muito o seu oferecimento para marcar-me quarto no hotel onde estão. Para mim seria agradabilíssimo estar tão perto de vós durante o mês que aí vou passar, mas acontece que terei de optar por instalações mais económicas, que me dizem ser possível arranjar aí, tanto mais que vou com um amigo que também não poderá gastar muito. Isto, porém, segundo espero, não impedirá que nos encontremos sempre que você puder e estiver disposto a aturar-me...
Hoje queria insistir num ponto, para que ouso pedir a maçada duma resposta breve. Vou a Paris em viagem de estudo, vou para trabalhar seriamente todo o mês de setembro, mas o ponto fundamental da minha deslocação está em poder ver demoradamente os seus quadros, visto que o contrato para o álbum “Portinari”, a editar aqui, está praticamente conseguido. Poderei eu, de fato, ver os quadros (estudá-los) antes da exposição abrir? 27, contando com a afluência que a exposição deve ter , principalmente nos primeiros dias, é um pouco tarde para quem regressará a 30. Eis porque o maço novamente pedindo que me diga se o que desejo será possível.
Já que o forço assim a escrever-me rapidamente, gostaria também que me dissesse se lhe poderei enviar o dinheiro que lhe fiquei devendo, o que agora me é possível fazer. Quando o recebesse, você acusaria a sua recepção em duas palavras. Está bem?
Não esqueço tudo que me tem dito e aí conversaremos. Vou entregar o cartão ao António Pedro (foi ótimo que viesse por meu intermédio). O Ferrer, de que me fala, e que conheço muito bem, é um rapaz simpático – apenas. Tal qual como acontece – mas ainda em menor escala – com o “Mundo Literário”.
Envio-lhe neste correio o número de Vértice em que saiu o meu Portinari, pintor de camponeses, uma simples nota no gênero da do O Globo.
Muitas saudades de minha mulher para vós e João Candido. Saudações de todos e um grande abraço do amigo e admirador:
Mário Dionísio
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