CO-1577
Dionísio, Mário. [Carta, 1955] jun. 21, Lisboa [para] Candido Portinari, [Rio de Janeiro, RJ]. [datilografado]
Querido Amigo:
Finalmente notícias suas! E de Maria, e de João Candido! Obrigado, muitas vezes. Ficamos radiantes por sabê-los de boa saúde e, embora na sua carta me pareça ver qualquer coisa que não vai inteiramente bem na vossa vida (engano-me?), a verdade é que a saúde e a força de ânimo são quase tudo. A nós, é o que se pode aplicar integralmente. Não nos falta o ânimo nem quase a saúde. De resto muita, muita coisa.
Fico à espera, com grande interesse, do seu desenho, para o número da revista. E (há entre nós um ditado que diz “ninguém é pobre no pedir”...), já agora, das fotografias prometidas. Estou desolado por não ter chegado a fazer o livro que projetava sobre a sua obra (isto exclusivamente porque, na crise editorial portuguesa, a casa editora acabou). Mas não perco a esperança de, numa edição muito modesta embora (só podemos agora fazer, e cada vez mais, coisas muito modestas graficamente) escrever o que penso sobre a sua importantíssima contribuição para a pintura dos nossos dias e do futuro. No caso deste plano ir avante, fazem-me muita falta fotos dos seus últimos grandes trabalhos (Tiradentes e, segundo me dizem, Navio Negreiro, Primeira Missa, etc.). As fotografias que teve a amizade de me oferecer e que espero ainda vir a utilizar editorialmente, têm sido de grande utilidade aqui, pois tenho-as mostrado e, de certo modo , explicado a muitos artistas jovens.
Dois dias depois de receber a sua carta, bateu-me à porta a bela edição do livro de Eugenio Luraghi, a quem escrevi imediatamente. Ainda bem. Creia que sentimos cada um dos seus êxitos verdadeiramente como um caso pessoal.
E, quanto ao que me diz da sua vinda à Europa: pensam passar por Lisboa?
Escreverei logo que receba o seu desenho. Um grande, grande abraço do vosso
Mário Dionísio
Av. Elias Garcia, 176. 3º. D.
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