CO-180
Corrêa, Roberto Alvim. [Carta] 1946 set. 12, Rio de Janeiro, RJ [para] Candido Portinari,
Paris. 2 p. [manuscrito]
Cândido amigo
Andamos com muita saudade de vocês – pensaremos em vocês particularmente no dia 27. Há de ser um grande sucesso a sua exposição, conquistando Paris e o resto da Europa artística. A seiva da sua arte é mesmo extraordinária. Tem nela algo de novo que há de influir nessa gente toda. E eles terão que reconhecê-lo. Estimei mesmo saber que Cassou aprecia a sua obra como merece. É ele uma grande figura – e para mim um amigo querido.
Vou
escrever-lhe. Aqui vai um artigo meu, que é a continuação dos outros e não será o último. Tenho estado várias vezes com Lói e a senhora dele, muito simpática.
Aqui continuamos na triste confusão de sempre. Tem-se a impressão de que o nosso pobre grande
Brasil está abandonado – e na Câmara a politicagem de sempre. O espetáculo não é muito confortante.
Se v. estiver com Ceschiatti e se lembrar, diga-lhe que vou escrever-lhe e que me escreva. Estou com falta de tempo. Pedem-me muitos artigos; estou também com vários compromissos com editores que não consigo cumprir: a minha profissão de professor me mata, passando o melhor do meu tempo em aulas que eu tenho que dar.
Cândido velho, tenho que deixá-lo hoje. Farei outra visita outro dia. Muitas lembranças nossas a d. Maria e para você um grande abraço do seu amigo e admirador
Roberto
P.S. No seu hotel está (ou estava) morando uma amiga nossa. Maria Ersilia Penido. Se você a conhece, quer mandar-lhe lembranças nossas. Morei muitos anos pertinho do hotel Vernet. Tive com meu tio uma livraria Avenue Georges V, 49, perto da Av. des Champs Elysés e do Fouquet’s. Os tempos mudaram. Almoçava quase todos os dias num ótimo restaurante na place de l’Alma – perto da Avenue Montaigne. Tinha um pequeno apartamento 17 Avenue de la Trémoille.