Representação de uma mulher jovem, sentada na esquina de um muro baixo que cerca uma horta, sob a sombra de uma ramada. Está voltada a três quartos para a esquerda, com uma das pernas flectidas, o cotovelo apoiado sobre o joelho e o rosto apoiado sobre a mão. Uma cesta pousada na sua frente e uma sachola pousada ao seu lado, sugerem que se trata de um momento de pausa no trabalho do campo. Dirige o olhar vago, pensativo, para o observador e no rosto, tisnado pelo sol, tem uma expressão de algum desalento, reforçada pela posição do corpo, reclinado sobre si, com um dos braços caídos. A figura ocupa o primeiro plano da composição, numa zona de sombra, mas onde, todavia, vibram os vermelhos e laranjas do lenço enrolado em volta da cabeça, os azuis, verdes e amarelos do avental, o branco intenso das mangas, pontuado por pequenos focos de luz. A indumentária, muito elaborada, corresponde na verdade a um trajar típico, pitoresco de que o artista tira amplo partido plástico, mais do que verdadeiramente a um traje de trabalho, usado quotidianamente por qualquer mulher do campo. Rendido aos encantos da pintura de género, Malhoa explorou, em extensa produção, todo o potencial do quotidiano rural, numa espécie de realismo sem compromisso social ou político. Deleitou-se com o colorido rico do trajar popular festivo, com que fantasiosamente vestiu as suas camponesas, envolvidas nos árduos trabalhos da terra e com as vivências do povo, com os seus dramas próprios, inerentes a uma determinada condição e a uma específica estrutura social. Malhoa recriaria noutra obra, muito próxima desta, , o tema da jovem melancólica, absorta nos seus "cuidados de amor", num momento de pausa nos trabalhos do campo, atribuindo-lhe o mesmo título. Usou nela o mesmo cenário - a horta da sua casa em Figueiró dos Vinhos - o mesmo "tempo" da pausa e também o mesma modelo, em diferente traje popular.