Engel Leonardo investiga noções de tropicalidade, modernismo, culturas indígenas e afro-americanas. Nascido no Caribe, ao conhecer os trabalhos dos brasileiros Rubem Valentim (1922-1991) e Abdias Nascimento (1914-2011) se entusiasmou com coincidências epistêmicas, conceituais e formais de experiências e pesquisas sobre espiritualidade. As semelhanças entre o ponto riscado de religiões afro-brasileiras e os traços dos vevês — estilo feito para chamar os deuses para as cerimônias de vodu — chamaram sua atenção. Em Lina Bo Bardi (1914-1992) encontrou um modernismo que incorpora africanidades e desvia-se dos preceitos construtivos e racionalistas da arquitetura internacional. Os guarda-corpos das passarelas que unem as torres do Sesc Pompeia, edifício projetado por Lina, não são meramente funcionais, mas simbólicos e relacionáveis à geometria sagrada das religiões de matriz africana. A estrutura de proteção é, ainda, uma simplificação formal do Mandacaru, planta que floresce em duras condições de seca no Nordeste e indica a chegada da chuva. Remetendo à presença e resistência dos migrantes nordestinos em São Paulo, traz sentido de convivência. Leonardo faz referência direta a Bo Bardi ao produzir Flor de Mandacaru. As duas esculturas da coleção do MASP têm hastes cilíndricas verdes. Em uma há uma ramificação dupla e uma circunferência vermelha no topo; na outra, uma ramificação única e a “flor” acima. O trabalho de abstração e reelaboração de elementos, linguagens e culturas, em um esforço de síntese, marcam o interesse do artista por uma estética e pensamento a partir de questões locais, como uma vida que germina nas frestas, ou como modernismos localizados. — D.Ro.
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