Na produção de Marcela Cantuária, conhecer a história, preservar a memória e imaginar futuros possíveis não são ações separadas. Em suas pinturas, a artista retrata a trajetória de mulheres que protagonizaram movimentos de mudança e transformação nas estruturas da sociedade: militantes, ativistas, artistas e lideranças latino-americanas. Essas personagens desafiaram as hierarquias e os lugares que lhes foram socialmente impostos pelo patriarcado, pelo colonialismo e pelo capitalismo com base em marcadores como gênero, raça e classe social. Em Margarida Alves, Cantuária utiliza símbolos, cores e sobreposições para narrar a história e o legado político da liderança sindical paraibana Margarida Maria Alves (1933-1983). Símbolo da luta pela igualdade de direitos para as mulheres do campo, seu nome inspirou a Marcha das Margaridas, uma das maiores mobilizações de mulheres trabalhadoras da América Latina. Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, quando lutou pelos direitos dos trabalhadores rurais, pela reforma agrária e pelo fim do trabalho infantil e incentivou a educação política desses trabalhadores. Alves foi vítima de um assassinato encomendado, falecendo aos 50 anos — o crime permanece impune. O legado de Alves é representado nesta tela por elementos como o milho, base alimentar de muitas populações latino-americanas; crianças carregando uma escada, em alusão ao seu crescimento; e trabalhadores montados a um cavalo alado, o que simboliza sua liberdade e autonomia. Esses elementos emolduram o rosto de Margarida, que se funde à paisagem imaginada, com seus olhos repousados no horizonte. — I.R.
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