John Philip Simpson (atribuído a), a partir da pintura de Sir Thomas Lawrence
Londres, Inglaterra, a partir de 1829
Têmpera sobre cartão
24,7 x 19 cm
A produção de pinturas de pequenas dimensões sobre papel, cartão ou papel colado em cartão começa a difundir-se na Europa no século XIX, especialmente a partir de meados da centúria, alternativa de execução mais rápida e a preços mais acessíveis. Os grandes retratistas do período também aplicavam a sua perícia técnica na produção de magistrais estudos a óleo ou têmpera sobre este tipo de suportes menos nobres. Por vezes tratava-se de pinturas-miniatura completamente acabadas, até ao mínimo pormenor, sem estarem incluídas no decurso de um trabalho específico e com valor artístico intrínseco. Em outras ocasiões, eram pinturas extremamente detalhadas que serviam de estudo preparatório ao processo de construção de uma outra versão sobre tela, mais ambiciosa e de maiores dimensões. O retrato a têmpera de D. Maria II, versão em miniatura do retrato original a óleo de Thomas Lawrence, pode enquadrar-se nestes dois parâmetros, sendo muito provável que esta pintura, até agora atribuída a John Simpson, não se trate de um estudo, mas sim de um trabalho posterior ao retrato que Lawrence executou em 1829, encomenda do rei George IV por ocasião da estadia de D. Maria da Glória em Londres.
Se se aceita a atribuição a Simpson, ativo na oficina de Lawrence no período 1818-1830 e na corte de D. Maria II em 1834 e em 1837, então é possível ponderar dois cenários:
- Estar-se perante um virtuoso exercício de estilo, apresentado a D. Maria II em 1834 para demonstrar a sua perícia e a sua ligação ao principal retratista de George IV, autor do retrato de D. Maria da Glória com nove anos, célebre na época graças às exposições da Royal Academy (1830 e 1833) e à sua difusão em gravura (1833 e 1836);
- Tratar-se de uma encomenda da rainha ou de alguém do seu círculo mais próximo. A proveniência deste retrato-miniatura é o Palácio das Necessidades, residência de D. Maria II e de D. Fernando, de onde é transferido para o Museu Nacional de Arte Antiga em 1913, três anos após a implantação da República.
À margem destas conjeturas, a pintura possui a espontaneidade e o rico colorido presentes nos dois retratos idênticos de D. Maria II em menina, conservados no Castelo de Windsor e no Museu Nacional de Arte Antiga.
O historiador da arte e conservador João Couto – diretor do Museu Nacional de Arte Antiga de 1938 a 1962 – no seu artigo "Obras de arte inglesa no Museu Nacional de Arte Antiga” (“Ocidente. Revista Portuguesa Mensal”, nº 298, vol. LXIV, fevereiro de 1963) [1], considerou a pintura-miniatura detentora das “qualidades de frescura, graça, facilidade, transparência, elegância, que são próprias da obra de Lawrence”, sem ponderar uma eventual atribuição a John Simpson, a quem qualificou de “pintor secundário”.
SOBRE JOHN SIMPSON
Pintor especializado no género do retrato, estudou na Royal Academy e foi um dos mais importantes colaboradores de Sir Thomas Lawrence, auxiliando ativamente em vários retratos da fase final do mestre e completando diversos retratos inacabados após a sua morte. É possível que tenha dado resposta a certas encomendas que solicitavam a cópia de retratos executados por Lawrence, como se sabe ter acontecido com Richard Evans, outro dos assistentes do pintor.
Na produção de Simpson destaca-se “O escravo cativo”, arrojada pintura exposta na Royal Academy em 1827 que expressa a sua postura favorável à abolição da escravatura, que apesar de ilegal no Reino Unido ainda era uma realidade nas colónias. Tratava-se de um polémico assunto no contexto sociopolítico da época e da Royal Academy, sobretudo tendo em conta que a abolição da escravatura nas colónias só se efetivaria totalmente em 1833 através de uma lei do Parlamento, o Slavery Abolition Act.
O modelo da pintura foi Ira Aldridge, então com cerca de vinte anos, afroamericano nascido livre e primeiro ator shakespeariano de ascendência africana a trabalhar nos cenários teatrais londrinos e europeus, interpretando papéis como Shylock, Macbeth, Richard III e o Rei Lear.
[1] Artigo publicado em 1963 tendo por base a palestra proferida no Instituto Britânico a 10 de fevereiro de 1949.