Esta pintura pertence a uma série de marinhas, pintadas na Praia das Maçãs que Malhoa frequentou com a mulher, nos últimos anos da vida desta, de que a mais importante é o belo quadro À beira-mar do Museu do Chiado. Homem do campo, mas visceral e apaixonado pela natureza, ele não podia deixar de ser sensível à intensidade do mar atlântico que capta no movimento de uma onda quebrando-se sobre os rochedos. Esta elegia azul e branca é tratada como um poderoso instantâneo, quase fotográfico, em que a energia do primeiro plano, disposto no lado esquerdo da composição, se acalma, sem perda de emoção, sobre o fundo, na fronteira sublinhada entre mar e céu.
Malhoa gostava de desafios que lhe permitiam exercer a sua perícia oficinal, em que profundamente acreditava, e nestes anos, de início de velhice, parece apostado em provar ao público que era capaz de ser moderno, adotando uma paleta mais clara e uma pincelada mais solta e construtiva. O regime naturalista que é o seu não se altera com experiências como esta mas, sem dúvida, enriquece-se numa sugestão de diálogo com outros sistemas picturiais, nomeadamente o de tradição impressionista
Raquel Henriques da Silva