"[...] Mario Carneiro, ao ver o painel realizado por Iberê para a Organização Mundial de Saúde em Genebra (1966), ponto culminante de sua aproximação ao informal, confessa ter pensado: 'Iberê está perdendo a estrutura da obra...'. Na realidade, existem desenhos preparatórios que testemunham uma preparação cuidadosa desse painel, tanto na direção dos gestos quanto na distribuição das cores. Mas era necessário que toda construção se desmanchasse na execução, deixando emergir pulsões não planejadas. Estrutura, para Iberê, é civilização, cultura; a ela se opõe a matéria enquanto natureza primordial, e o gesto, que também é natureza, no que possui de impulso irrefletido.
Certamente, o painel de Genebra marca um ponto extremo de dissolução da forma. Logo depois voltam a emergir os motivos (carretéis, dados), não mais, porém, como objetos dotados de volume ou contornos, mas quase, por assim dizer, como encrespamentos, rugas da própria matéria pictórica. [...]"
MAMMÍ, Lorenzo. Iberê Camargo: as horas [o tempo como motivo]. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2014. p. 12.
“Na arquitetura do suíço Tschumi, a obra de Camargo está perfeitamente valorizada. É um sem-número de cores. Os ocres, os amarelados, os azuis da paleta do pintor brasileiro têm aqui um exuberante desdobramento no espaço. A sã visão do artista espalha-se aí em um alegre turbilhão. Pinceladas, inflexões, cutiladas são como um enxame encantado. À direita, nos marrons e nos tons oliváceos, uma lembrança do fetiche de Camargo: O carretel. Um ardente, um maravilhoso fluxo derrama-se por todos os lados, em direção a nós. Nesse pintor que se renovou constantemente, nesse inquieto sempre em busca de novos meios de expressão, acontece, então, como um sinal de suspensão. Chegamos ao estilo, à maneira de pintar que, durante muito tempo, será a de Iberê Camargo."
COURTHION, Pierre. Nascimento de um artista. In: Iberê Camargo. Rio de Janeiro: FUNARTE/Instituto Nacional de Artes Plásticas/Museu de Arte do Rio Grande do Sul, 1985. p. 66-67.