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Mendigos do Parque da Redenção IV

Iberê Camargo1987

Fundação Iberê

Fundação Iberê
Porto Alegre, Brasil

Alguns dos moradores de rua presentes no Parque da Redenção, em Porto Alegre, são retratados por Iberê de modo a dar corpo a sua quase invisibilidade. Nessas obras, o artista busca capturar o que está por debaixo da pele dos sujeitos – forma que já vinha explorando nas pinturas da série Fantasmagoria, realizadas neste mesmo ano. Aqui, foram modelos os moradores de rua que estavam reunidos junto à Fonte Francesa, chafariz de ferro fundido instalado no Recanto Europeu do parque.

“[...] Acompanhei inúmeras jornadas do artista pela procura dessas imagens que nos ferem com delicadeza, cheias de visualidade e significados. Esses rascunhos já por si são maravilhosos, mas serviam para recriações na volta ao estúdio; surgiam daí guaches sobre papel, elementos novos nas pinturas e potentes gravuras em metal.
Foi num dia desses, quando o Iberê ainda morava na rua Lopo Gonçalves, que saímos a pé para mais um percurso no Parque da Redenção. O artista com o seu caderno de desenhos e eu carregando alguns dos seus pertences. Chegamos na fonte entre árvores, naquele momento riscada pela luz do sol: um cenário de filme. À volta dela vários mendigos conversavam e lavavam as suas roupas. O artista pareceu iluminado. Apenas com os olhos e a mão em movimento, executou desenhos lindos e fluidos como música. Depois num gesto de gratidão pagou os modelos: entregou uma nota de dinheiro a cada um deles e fomos embora. Nesse dia uma figura me provocou a atenção: o homem flagrado de frente, curvado sobre o espelho d’água da fonte, com o olhar fixo no artista e suas costas acima da própria cabeça, passava uma sensação simultânea de dignidade e sofrimento, como se estivesse pronto para carregar o peso do mundo.”
RADAELLI, Gelson. In.: Acervo Iberê: Iberê Camargo – Visões da Redenção. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2020. p. 28.

"Minha contestação é feita de renúncia, de não participação, de não conivência, de não alinhamento com o que não considero ético e justo. Sou como aqueles que, desarmados, se deitam no meio da rua para impedir a passagem dos carros da morte. Essa forma de resistência, se praticada por todos, se constituiria em uma força irresistível. O drama, trago-o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade mais profunda que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia a dia com o colorido das orgias e da alienação do povo. Não faço mortalha colorida."
CAMARGO, Iberê; MASSI, Augusto (org.). Gaveta dos guardados: Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 135.

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  • Título: Mendigos do Parque da Redenção IV
  • Criador: Iberê Camargo
  • Data de criação: 1987
  • Local de criação: Porto Alegre, RS
  • Dimensões físicas: 22 x 32,5 cm
  • Direitos: © Fundação Iberê Camargo
  • Meio: Tinta de esferográfica, lápis Stabilotone, nanquim e guache sobre papel
  • Registro: D0622
  • Foto: © Fábio Del Re_VivaFoto
  • Coleção: Acervo Fundação Iberê
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