Obra quase acabada, foi a penúltima em que Soares dos Reis trabalhou. O seu sintetismo confere-lhe uma serenidade hierática. A distribuição dos valores do claro-escuro é realizada com uniformidade criando uma envolvência pronunciada pela transparência do mármore, que iguala os valores da carnação, do cabelo e do panejamento e transforma a materialidade da escultura em sensação. O facto de a retratada se não reconhecer na escultura e por isso a ter recusado é exemplificador da distância a que Soares dos Reis se situa do naturalismo das obras anteriores. Entender esta como um retrato símbolo do espírito ou de uma raça, não nos parece a leitura mais apropriada, porquanto o que aqui se joga e afirma é uma expressão do escultórico que, na sua desmaterialização e apresentação enquanto sensação, revela os limites de si próprio. (Pedro Lapa)