Non ex quovis Ligno Fit Mercurius A Macao in Chyna

Gravura que representa uma perspectiva em voo de pássaro de Macau, publicada na obra Thesaurus Philopoliticus, concebida pelo poeta e cartógrafo alemão Daniel Meisner (1585-1625) e cuja publicação se iniciou em 1623, prolongando-se pelos anos seguintes. A vista é tomada da ilha da Lapa, fronteira ao Porto Interior, que surge, em primeiro plano, com as suas enseadas e uma grande nau ancorada. Em contrapartida, no segundo plano, na parte superior da representação, vê-se a Praia Grande, com embarcações a remos, ainda sem o protagonismo que irá assumir na iconografia urbana a partir da segunda metade de seiscentos, embora se destaque o baluarte rodeando a representação convencional do que será o Convento de S. Francisco. À esquerda da composição, divisa-se um carregador caminhando no Istmo que liga a península ao restante território chinês. Na ponta oposta, nas extremidades da península, são assinaladas algumas construções que deverão representar o Templo de A-Má. Todo o restante casario anónimo, assim como os edifícios com torres, que parecem significar igrejas (da esquerda para a direita, o colégio de São Paulo, a Sé, e S. Lourenço), dispõem-se um tanto arbitrariamente ao centro da composição, definindo arruamentos e praças, uma delas, a do Senado e da Misericórdia, com um cruzeiro. Em diversos pontos deste espaço urbano encenam-se tipificações de vivências: nobres, a pé ou a cavalo, protegidos por sombrinhas empunhadas por criados, um soldado caminhando, uma cena pastoril ou, ainda, uma cadeirinha de transporte carregada por serviçais.
A representação de Macau baseia-se na famosa gravura de 1606 de Johann Théodore de Bry (1561-1623), incluída na série conhecida por Petits Voyages, dedicada às Índias Orientais. A perspectiva de Meisner segue o padrão habitual das “vistas” de cidades da sua colectânea, com título e legendas infra paginais constituídos por motes poéticos da autoria do próprio, em latim e em alemão, e apresenta, em primeiro plano, uma curiosa figura de índio da América numa espécie de número circense incitando um quadrúpede a passar através de um arco. Na representação da cidade, à semelhança da sua fonte directa, o aglomerado urbano tem uma escala desproporcionada face ao próprio território.
Fernando António Baptista Pereira in catálogo Presença Portuguesa na Ásia, Museu do Oriente, 2008, p. 149