Esta pintura revela-se uma poética da substância expressa num sensualismo cromático absoluto que figura quer a paisagem, quer o corpo, enquanto paralelamente evoca uma memória da pintura clássica. Todavia não estamos já diante da representação da própria carnação do nu, mas perante a construção de valores volumétricos, na esteira de Cézanne, aos quais se sobrepõe um trabalho cromático, oscilando entre os rosas carminados, os laranjas e os ocres, que leva a consequências extremas o prazer e o jogo estabelecido pelas diversas superfícies e velaturas que constroem a pele. Perde-se o valor clássico da carnação e, como se de matéria gustativa se tratasse, o corpo harmoniza-se com a natureza-morta do primeiro plano e com a vegetação luxuriante do fundo. (Pedro Lapa)