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O canavial: memória metamorfose de um corpo ausente

Alberto Carneiro

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos

Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
Lisboa, Portugal

ANTES
Há um livro do escritor italiano Roberto Calasso em que o autor pergunta sempre pelo que está antes. Antes do
pensamento, antes da filosofia, antes da razão, antes do logos. Antes.
Na rede de canas desta escultura de Alberto Carneiro há a mesma pergunta por um antes da arte em direcção a uma vernacularidade estética.
O canavial de Alberto Carneiro é uma instalação de 1968 que se cruza, na sua obra, com outras duas instalações que partem do mesmo princípio e que são Uma floresta para os teus sonhos, de 1970, e Um campo depois da colheita para deleite estético dos nossos corpos, de 1973-1976. As três são situações telúricas nas quais o cheiro da terra recriado no espaço expositivo pela rigorosa e cuidadosa organização de elementos do ciclo da natureza produzem máquinas de viajar no tempo e no espaço para o espectador. Perante estas esculturas somos transportados para um tempo anterior e um lugar originário. Claro que a distribuição das peças, dos troncos, das medas ou, neste caso, das canas, obedece a critérios estéticos e organizativos estritos, mas a sensação que o espectador tem é a de que mergulhou, por via de um mecanismo de transporte emocional e afectivo, numa anterioridade do artístico, num tempo perdido no qual a emoção estética se ligava a sensações primeiras. Por isso, O canavial é uma obra extraordinária – um passaporte, manipulado pelo artista, em direcção a algo que não pertence ao domínio da natureza criada, mas da própria natureza criadora, da Natura Naturans, como dizia Espinosa.
Muito pouco pode a arte tentar mais do que isto: transformar a sua organização estética em ficção de verdade original e, nesse propósito (que para Alberto Carneiro é ecológico, como escreveu no Manifesto de 1968), envolver o espectador – sobretudo porque num canavial, a procura é pelo corpo ausente, por aquele corpo que, um dia (se algum dia) poderá completar o nosso.
Dele temos sempre memória e nela reside a nossa expectativa de completude.
“A vida é bela”, escrevia Jorge de Sena, “sobretudo porque não temos outra, mas também porque temos a esperança de possuirmos amanhã o corpo que ontem desejámos”. A arte, às vezes, é o alimento mais cru e feliz dessa ficção.

Delfim Sardo

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  • Título: O canavial: memória metamorfose de um corpo ausente
  • Criador: Alberto Carneiro
  • Data de Criação: 1968
  • Localização: Lisboa
  • Dimensões físicas: Dimensões variáves
  • Tipo: Instalação
  • Direitos: © Culturgest - Fundação Caixa Geral de Depósitos
  • Material: Canas, fitas de cor, letra de decalque e ráfia
  • Inventário: 360824, 360824
  • Fotógrafo: © Cortesia do artista
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