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da banalidade - volume 1

Instituto Tomie Ohtake2016

Instituto Tomie Ohtake

Instituto Tomie Ohtake
São Paulo, Brasil

É mais fácil reconhecer algo banal do que definir a banalidade. Nos feudos medievais, uma coisa banal – um moinho, por exemplo – era uma posse do senhor feudal que podia (ou deveria) ser utilizada por qualquer vassalo mediante uma taxa correspondente. O sentido primeiro do banal remete àquilo utilizado por todos, mas possuído apenas por um. Hoje em dia, o banal diz respeito a coisas de uso trivial e pouca originalidade, que podem ser empregadas por qualquer um em situações quaisquer, sem implicações ou consequências excepcionais. O banal passou a ser identificado com o que vale para todos e por isso mesmo não pertence a ninguém.

É notável que a banalidade das coisas resulte delas serem "de todo mundo" e, com o tempo, terem se desvinculado da autoria original que um dia possa ter estado associada a elas. É como se o próprio sucesso de difusão de um objeto, expressão ou ideia acabasse lhe rebaixando em alguma hierarquia imaginária de valores de originalidade ou autenticidade. Isso é particularmente intrigante quando pensamos na linguagem, em que os termos precisam ser compartilhados por muitas pessoas para serem eficientes, pois a comunicação acontece com códigos compartilhados na indistinta região do que há "entre nós".

Assim, muito embora seja em geral evocada em tom pejorativo, a banalidade interessa especialmente a muitos artistas contemporâneos. A própria possibilidade de objetos banais serem percebidos como arte já foi experimentada e debatida à exaustão e, sem precisar testar novamente essa hipótese, diversos artistas hoje recusam os terrenos dos "grandes" gêneros, assuntos ou técnicas para se dedicar a esmiuçar poéticas e possibilidades que residem no nível da banalidade mesma. Isso pode levar às sinuosas veredas do "gosto" popular, aos princípios mais basais e genéricos da linguagem ou à despretensão das anotações pessoais cotidianas.

O que interessa aqui não é demonstrar como os artistas podem fazer algo especial valendo-se de coisas e materiais banais. Ao contrário, é acompanhá-los no manuseio do banal enquanto banal, aproveitando sua suposta falta de especificidade, aura e valor na tentativa de pensar seus significados e sentidos mais desconcertantes.

Embora o banal seja lido como vulgar por não ter um dono reconhecível, ele na verdade está muito próximo do que somos e exercemos em nossos balbucios cotidianos. Lidar, de dentro da arte, com a epiderme do banal é uma oportunidade de atentar para o que tece a trama da nossa vida quando não estamos particularmente atentos a ela. Como diz a popular canção de ninar que John Lennon compôs para seu filho: “A vida é o que acontece quando estamos ocupados fazendo outros planos”.

Paulo Miyada
Julia Lima

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  • Título: da banalidade - volume 1
  • Criador: Instituto Tomie Ohtake
  • Data de criação: 2016
  • Local: São Paulo
  • Palavras-chave do assunto: Instituto Tomie Ohtake
  • Tipo: image
  • Direitos: Instituto Tomie Ohtake
  • Meio: image
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