Silhar ornamental com retrato de senhora

Este painel fazia parte de uma série de quatro, provenientes de uma casa particular nos arredores de Lisboa, e nele se anuncia o final da estética neoclássica na azulejaria portuguesa, uma das fases mais ricas de produção cerâmica e onde ficou patente a engenhosidade dos seus pintores pela multiplicidade de conjugações possíveis dos elementos que a caracterizam. Em cada um dos painéis desta série estava representada uma figura feminina, uma das quais mais idosa, o que levou à tradição de se referir tratar-se dos retratos de uma mãe e das suas três filhas, sendo a que aqui se apresenta a mais bela do grupo. A desconcertante conjugação das penas de pavão com o exotismo das cabeças de orientais não se consegue sobrepor ao imponente medalhão onde surge retratada uma jovem, com um extravagante chapéu de abas largas, ornamentado por plumas. Este adereço, ainda que com variações, surge em todos os painéis, tal como o véu que oculta parcialmente o rosto da rapariga, sem contudo impedir a sua observação. Esta dificílima técnica de simulação de transparências tem poucos paralelos na pintura cerâmica, pela extrema dificuldade em saber, de antemão, se o resultado pretendido era alcançado com a cozedura dos azulejos. Ela surge assinalada, com idêntica mestria, somente numa fase anterior, no chamado Ciclo dos Mestres, no 1º quartel do século XVIII, naquela que é considerada a fase de apogeu da azulejaria barroca portuguesa. Ainda que hoje não seja possível garantir estarmos perante um verdadeiro retrato, alguns exemplos desta prática podem ser encontrados na azulejaria portuguesa a partir do século XVIII, mas com maior evidência nos períodos subsequentes. Não obstante a dúvida, importa realçar a possibilidade, demonstrando a versatilidade de linguagens empregue no azulejo em Portugal. Produção de Lisboa.