A representação da Virgem do Leite, Maria portando ao colo o seu filho e amamentando-o, é uma temática desenvolvida apenas no final da Idade Média, correspondendo a um período de afirmação da devoção à Virgem e, em termos artísticos, a um momento de humanização das representações de pendor religioso que marcam a fase inicial do Renascimento. Dominada por uma expressão plástica sem grandes artifícios, quase icónica, mais próxima da produção nacional do século XV do que dos valores importados de Bruges ou Itália, não deixa de ser um excelente "documento" sobre as devoções onde a atenção e o cuidado que Maria põe em segurar o Menino são sinais da sua total entrega e devoção e, simultaneamente, podem ser interpretados como a proteção que a Virgem (e a Igreja) oferece aos fiéis.
Maria surge como uma simples mulher que expressa todos os sinais de ternura pelo seu filho, mas também simboliza a mãe de Deus (como mãe de todos os Homens), representada a meio corpo, com a cabeça ligeiramente inclinada para a direita, rosto ovalado, cabelos louros, longos e soltos, caindo sobre os ombros, segura ao colo o Filho desnudo a quem oferece o leite materno. A imagem da virgem é respaldada com uma peça têxtil pendente, estando em pano de fundo uma paisagem esfumada na qual se adivinha um jardim com roseiras e algumas árvores e montanhas.