IDENTIDADE
Esta pequena pintura de João Penalva é uma bandeira. Eu como tu, assim se chama.
E tem razão. “Eu” é, inevitavelmente, uma maneira de dizer tu, porque não há tu sem eu, ou um “tu” é uma declinação de um “eu”.
A obra de João Penalva é feita de poéticas sempre tomadas a partir da consciência de que qualquer definição, qualquer identidade, é uma metáfora de um ponto de vista. Por isso, as suas obras são frequentemente narrativas e contam histórias que só existem porque são emanações de um plano de radical subjectividade. Assim, não há qualquer hiato entre a pintura delicada do início do seu percurso e as obras que partem de grandes construções ficcionais para construir teias narrativas nas quais a identidade de alguém é definida face a outrem – seja um outro cultural, seja uma outra subjectividade.
Eu como tu, na sua aparente simplicidade, é a mais clara afirmação desse primado de um enorme novelo artístico sobre a relatividade da identidade. Somos o que somos face, sempre, a alguém.
Delfim Sardo