Jacob Jordaens foi um dos pintores que, tal como Rubens e Van Dyck, marcaram a produção pictórica flamenga do século XVII. O seu percurso iniciou-se na oficina de Adam van Noort, por quem foi profundamente influenciado, versando principalmente temas populares e mitológicos. Outra característica que vai marcar a quase totalidade das suas obras é o tratamento da luz em claro-escuro.
O presente quadro – Pã tocando flauta –, foi adquirido em 1949 a Félix Labatt. Segundo anotações e registos feitos pelo Dr. Anastácio Gonçalves, a obra estava há muitos anos na família do vendedor e fora sempre considerada como um autêntico Jordaens. Exames laboratoriais realizados em 2008 que antecederam um trabalho de limpeza e conservação, confirmaram a autoria, visto ter sido localizado o monograma “J.” de Jordaens no quadrante inferior esquerdo da tela.
A figura de Pã, que ocupa grande parte do espaço da composição, está nua e representada de perfil, apresentando quase que uma monocromia nos tons das carnações com variantes de claro-escuro e incidências luminosas na zona superior do tronco. A personagem possui o aspecto físico de um homem de meia-idade, tendo as mãos que seguram a flauta um tratamento muito rude e com pouca definição.
Se comparada com outras pinturas do mesmo tema que Jordaens tantas vezes reproduziu, apercebemo-nos da existência de uma quebra do equilíbrio entre o humano e a natureza, ou melhor, entre a natureza humana divulgada pela estética clássica e a natureza física dos realistas.