Do palácio da Praia, em Belém, já desaparecido, veio o conjunto de seis painéis, dois de maior dimensão e quatro mais pequenos, que hoje integram a chamada Sala da Caça, espaço do Museu Nacional do Azulejo onde o seu fundador, João Miguel dos Santos Simões, pretendeu recriar um ambiente seiscentista. Em maio de 1962, época em que o então Museu do Azulejo era uma dependência do Museu Nacional de Arte Antiga, estes painéis já se encontravam montados nesta sala, então denominada "dos azulejos de Belém". Pelos motivos ornamentais representados e paleta empregue, estes azulejos têm grande afinidade com alguns dos que ainda decoram o palácio dos Condes da Calheta, também em Belém. Muito provavelmente, terão sido pintados na mesma olaria de Lisboa, a qual permanece por identificar. Em todos os painéis desta série exibem-se cenas de caça entre animais, motivo central que é envolvido por vigorosos enrolamentos e volutas de acanto, pintado a amarelo e a verde cobre, cor que as olarias de Lisboa utilizaram nos derradeiros anos da policromia seiscentista, num esforço acrescido de renovar a produção. Efetivamente, estamos aqui perante exemplares muito qualificados de um período de transição do gosto, evidenciando uma estética proto-barroca que anuncia o que virão a ser as grandes cenografias sobre suporte cerâmico da primeira metade do século XVIII. A fonte iconográfica em que se baseou um dos painéis deste conjunto, aquele em que dois cães atacam um touro, encontra-se identificada, tratando-se da gravura 18 da série Venationes Ferarum, Avium, Piscium, editada por Philipe Galle a partir de desenhos de Johanes Stradanus.