Estas pochades foram executadas quando Amadeo, instalado em Paris há já dois anos, se decide dedicar por inteiro à pintura depois de desistir da arquitectura e do interregno da caricatura. O convívio com os pintores da Cité Falguière não está isento da escolha do tema, bem como do seu tratamento. Primeiro Toulouse-Lautrec e depois Picasso realizaram ambos inúmeros interiores de cafés com grande liberdade de execução em busca de uma nova síntese. Relativamente ao conjunto da obra de Amadeo estes Cafés de Paris exibem, no seu início, uma liberdade alheia a tradições académicas e que se funda na atenção a realizações mais características dos primórdios das vanguardas do século XX. A expressividade da pincelada, própria da pochade, a par da síntese e planificação a que as formas estão sujeitas, desenvolvem massas agitadas criadoras de atmosfera. Duas zonas se destacam: uma mais tonal e quente, onde os casacos pretos e os castanhos dos rostos e das mesas se agitam com certo dinamismo; outra, servindo de fundo, apresenta um cromatismo mais frio e tímbrico com uma verticalidade bem ritmada. Relativamente à produção nacional da época, estas pinturas pela liberdade e entendimento implícitos quase se apresentam como metas de um Modernismo desconhecido e só tardiamente aflorado. (Pedro Lapa)