A par de Lisboa, Porto, Gaia e Aveiro, no último quartel do século XIX as Caldas da Rainha afirmou-se como um importante centro de produção cerâmica, revitalizado quando, em 1883, o caricaturista e ilustrador Rafael Bordalo Pinheiro (n. 1846 - m. 1905) enveredou pela atividade de ceramista ao aceitar dirigir a Fábrica de Faiança, que começaria a laborar em junho de 1885. Na continuidade da sua obra gráfica, Bordalo Pinheiro utilizou o objeto cerâmico como arma de contestação do Regime monárquico, dando corpo a uma série de figuras críticas da política e da sociedade do tempo. Desenvolveu cerca de duas centenas de modelos tridimensionais, numa obra influenciada pelo revivalismo internacional da cerâmica do artista francês Bernard Palissy (n. c.1510 - m. c. 1589), já presentes na tradição local, e que viria a reformular de acordo com um gosto eclético e revivalista. Assim, várias correntes estéticas internacionais da segunda metade do século XIX foram reelaboradas num espírito assumidamente português, inspirado também na arte árabe e manuelina do século XVI. As influências Arte Nova recebidas diretamente em França, mas tardias no trabalho de Bordalo Pinheiro, tiveram expressão quer na criação de peças tridimensionais, quer no azulejo.