Paisagem tristonha, sem lugar atribuível, ela constitui uma variante de numerosos exercícios pictóricos de Silva Porto que, sempre que os afazeres académicos lho permitiam, realizava no exterior, ao ar livre e sobre o motivo, transpondo, para o suporte planimétrico, pedaços da natureza. Belos ou feios, eles são para o artista a ocasião repetida de moldar as formas da vegetação, o chão e o céu, como manchas coloridas, rápidas e habilíssimas, onde a luz introduz uma dinamização naturalista, neste caso, no adivinhado caminho que surge no primeiro plano. Saliente-se também a mestria na criação da inventada profundidade do quadro, sugerindo um efeito de lonjura repetitivo que amplia a solidão do sítio, território vegetal onde a própria presença do pintor se apaga ou espelha nos corpos dos pinheiros e na rala vegetação do solo.
Com trabalhos como este, Silva Porto pretende mais do que captar a natureza: quer transmutá-la em pintura, através de timbres e tons de uma paleta mínima, feita de amarelos, verdes e castanhos que só o azul esmaecido do céu aquieta. Há uma espécie de estética musical no procedimento, como se as cores fossem notas musicais abstratamente entretecidas em ritmos.
Raquel Henriques da Silva
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