Representa-se na tela a figura do pintor Henri Michel-Lévy, artista que manteve contacto com alguns nomes ligados ao movimento impressionista. A representação do tema, «artista em ateliê», não é inédita na obra de Degas, já que cerca de 1868 o pintor havia realizado «Retrato de James Tissot» (The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque). Na composição, para além do quadro esboçado à direita, uma atualização do tema da «fête galante» em estilo impressionista, merece destaque a pintura «As regatas», já que através desse pormenor é possível estabelecer um paralelo entre o manequim no chão e a sua representação na tela, em ambos os casos de costas voltadas para o artista, aspeto que foi já entendido como uma «imitação da imitação da realidade». O universo complexo e inquietante da composição parece assim remeter para uma leitura original da relação entre verdade e ilusão, podendo constituir, ainda, uma reflexão sobre a razão de ser da arte e sobre a circunstância inevitável da morte. Finalmente, no interior do espaço comprimido e solitário, o pintor introduz ainda um elemento que perturba a aparência mais ou menos estática da representação adotando para o efeito um enquadramento descentrado e uma perspetiva inesperada. Na cena insólita projeta-se sobretudo Degas, observador lúcido e impiedoso da realidade.