"As pinturas [tombos] P162 e P001 são dois exercícios pictóricos contemporâneos. O retrato com a transcrição da aparência externa do modelo, mais desenho com pincel do que pintura, procedimento muito próximo do seu professor João Fahrion (1898–1970) e uma figura com interior, um retrato que vai além da representação da personagem com a cuidadosa transcrição do interior no qual está a figura. O cuidado extremo com a representação do interior ultrapassa os limites do retrato e indica uma preocupação com a representação das superfícies. Essa vocação para a frontalidade e para a representação na superfície da tela se tornará uma característica distintiva na obra de Iberê Camargo, maneira que se atenuará somente nos últimos anos de sua carreira."
GOMES, Paulo. Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares. Fundação Iberê Camargo: Porto Alegre, 2015. p. 78.
"Em 1940 recomecei a pintar. À noite, transformava a nossa pequena sala em ateliê, Maria, essa companheira insuperável, sempre paciente, era o meu modelo. Meu interesse, minha paixão pela pintura foi crescendo. [...] Costumava mostrar os meus desenhos ao Rasgado, que me fazia críticas judiciosas e me falava de arte. Em certo momento, tive boas indicações de Fahrion, professor já bastante conhecido e de bom renome, como artista.
[...]
Do ponto de vista de um pintor, nessa época Porto Alegre era uma cidade provinciana, conservadora. O modernismo não tinha ainda influído nas artes plásticas do Rio Grande do Sul. O moderno era mal interpretado pelos artistas e inteiramente desconhecido do público. [...]"
CAMARGO, Iberê; MASSI, Augusto (org.). Gaveta dos guardados: Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 125-126.