Espírito isolado e viajado, Keil expressa-se através de um sentimentalismo melancólico que o relaciona com um romantismo tardio, de finais de século. Esta marinha, tema pouco abordado na pintura portuguesa de então, apresenta-se em castanhos abertos e com uma luminosidade de tonalidades escuras que se abate sobre a praia e o mar. Uma figura de costas contempla-a, reflectindo o espírito meditativo do artista. O jogo de luz/sombra, entendido em tons suaves, exprime a sensação de recolhimento numa zona que elegeu como morada, o Vale de Colares, ligando-a a um sentimentalismo que aponta para um novo modo de observação da natureza. É da interiorizada relação isolamento/cosmopolitismo que Keil consegue extrair todo o seu potencial para melhor explorar essa espiritualidade, inerente à interpenetração do claro/escuro. O "santuário" da natureza, aqui presente, conduz a um acrisolamento simbólico, raro na pintura portuguesa. (Maria Aires Silveira)