Representa-se na tela a povoação de Quillebeuf, no estuário do Sena, local que Turner visitou no decurso da década de 1820. O quadro viria a ser apresentado pela primeira vez na Royal Academy, em 1833, com uma nota no catálogo da exposição a alertar para os perigos de navegação decorrentes da subida brusca da maré e para o irromper súbito de uma enorme onda, fenómeno conhecido entre a população da região por «Mascaret» ou «Barre».
Existe na obra uma conjugação particular de factores que se revela determinante para a compreensão da metodologia de trabalho de Turner, onde se inscrevem observação naturalista, memória e recriação sensitiva da realidade. Partindo desses pressupostos, o artista utiliza o voo de um bando de gaivotas que se ergue no céu em espiral como elemento determinante para o equilíbrio disciplinado da composição, desenvolvida numa multiplicação ininterrupta de círculos.
Embora conservando um carácter topográfico e incorporando na narrativa pictórica um indiscutível potencial dramático – estão assinalados, para além da vigia que se afunda, à direita, a trilogia trágica farol, igreja, cemitério –, Turner procede a um exercício emotivo de luz e cor, reconhecendo-se na obra a tendência para a eliminação progressiva das formas, dissolvidas na atmosfera húmida da representação.