O "Retrato de Miguel N. Lira" de Frida é a peça central da coleção do Museu de Arte de Tlaxcala. Esta é a única de suas peças que registra a data exata em que foi pintada: 1927. Frida pintou este retrato do poeta Miguel N. Lira (um membro do grupo político "Los Cachuchas" e um amigo próximo dela) a seu pedido. A própria artista não ficou muito satisfeita com a pintura, embora o poeta tenha gostado muito. Kahlo parece ter tirado a imagem do seu amigo de uma fotografia. O cata-vento que Lira está segurando em sua mão esquerda é uma alusão à infância. O livro à sua direita apresenta uma imagem de uma goiaba e o pronome "tú" (você), em referência aos títulos de seus dois primeiros livros publicados. O anjo pode ser o arcanjo Michael (Miguel em espanhol, que era o primeiro nome de Lira), ou poderia ser um guardião, referenciando imagens religiosas dos primeiros trabalhos do poeta.
O cavalinho de pau e a boneca podem ser as encarnações iniciais de dois livros infantis que ele escreveria: "Mi caballito blanco" (Meu Cavalinho Branco), de 1943, e "La muñeca pastillita" (A Boneca Pastillita), de 1942. O "R" poderia ser do nome da sua namorada, Rebeca Torres y Ortega, que mais tarde se tornou sua esposa. Se assim for, talvez a forma que se assemelha a uma torre complete esse significado. A lira é um reconhecimento direto ao seu sobrenome, assim como seu trabalho como poeta. O sino e o onomatopaico "TAAAAAAAAANN" são uma referência local: seu primeiro livro, "Tú" (1925), foi dedicado "A 'María de Guadalupe', "o sino no Santuário de Ocotlán, cuja voz eu nunca parei de ouvir". A cabeça flutuante pode representar um "memento mori" (um lembrete da mortalidade) ou um crânio do Dia dos Mortos. A onomatopéia, a letra "R" e o nome Miguel fazem parte das experiências estéticas do dadaísmo e do cubismo nesse período.