Sanyasi captura a essência de um dos arquetípicos do Oriente exótico da Índia. Neste retrato, Trindade teve o cuidado de incluir todos os atributos que fazem do homem santo nómada uma curiosidade para a maioria dos índios e também para os estrangeiros. A sua representação assemelha-se à dos Orientalistas, Escola de Bengal ou dos chamados Company artists – especializados em tipos étnicos, trajes regionais e mendigos – no entanto o realismo de Trindade, ligado à sua formação ocidental e congénito conhecimento do costumes e gentes da Índia diferenciam a sua versão das demais.
Cada elemento do ser do seu modelo é astutamente registado. Olhando directamente para o observador, o sanyasi ergue o seu kashkul, ou pote de esmolas, como se solicitasse uma resposta imediata. Como Shiva, este homem usa seu cabelo apanhado no topo da cabeça. Uma calêndula, a flor omnipresente que adorna santuários e tumbas por toda a Índia, agarrada à barba, perto da mão que manipula as contas de rudraksha que usa em volta do pescoço para o lembrar da samsara, ou ciclo da vida, morte e reencarnação. Trindade convida o observador a sentir o ambiente soalheiro através da utilização de tons amarelos quentes que prevalecem nesta composição e relacionam a pele bronzeada a uma existência errante, ao ar livre. Envolto sem cerimónia nas suas vestes cor-de-laranja, o sanyasi segura uma vara de bambu, objecto que contribui para sua imagem mendicante e itinerante.
Referências: Shihandi, Marcella, et al, António Xavier Trindade: An Indian Painter from Portuguese Goa (catálogo de exposição), Georgia Museum of Art, University of Georgia, 1996; Gracias, Fátima, Faces of Colonial India: The Work of Goan Artist António Xavier Trindade (1870-1935), Panjim, Goa, Fundação Oriente, 2014.
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