"[...] A onipresença do tema da roda de bicicleta poderia muito bem parecer uma retomada crítica de Roda de bicicleta, de Marcel Duchamp. O mestre da vanguarda havia feito dessa roda um simples ready-made, um objeto retirado do mundo quotidiano pela vontade teórica do artista para tornar-se objeto de arte no espaço abstrato do museu. Iberê, ao contrário, recoloca essa roda mítica no quotidiano e, assim fazendo, dá-lhe novamente um valor humano e pictórico. É a sua maneira de pensar a alegoria do retorno de O filho pródigo, de De Chirico: contra a ironia aérea de Duchamp, Iberê brada sua preferência pela tragédia terrena."
LEENHARDT, Jacques. Iberê Camargo: os meandros da memória. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2010. p. 35.