"Por volta de 1950, fui aprender pintura com Iberê Camargo, que tinha seu ateliê num pequeno apartamento na Lapa. Fez alguns testes comigo para ver se valia a pena perder seu tempo e lá fiquei.
Quando Iberê foi ensinar gravura no Instituto Municipal de Belas-Artes, fui junto, entrando então no mundo da gravura. Era um professor exigente, tecnicamente muito meticuloso. Fazia questão de um bom começo: polimento perfeito, limpeza de chapa, trabalho que tomava meses de aprendizado. Depois, o início de técnicas básicas, como água-forte e água-tinta. Levávamos muito tempo antes de concluir uma etapa e retrabalhávamos o que não estava bom. As provas sempre em preto-e-branco. Cor, só depois de muito tempo. Posso dizer que tudo o que aprendi sobre gravura foi naquela época. Passei depois rapidamente por outros professores, frequentei alguns ateliês no exterior, mas a base era sólida e havia compreendido o mecanismo da técnica. Se depois pude ensinar gravura, foi baseada no que aprendi então com Iberê. Sempre estivemos juntos, como artistas e como amigos. Participei do Salão Preto e Branco, ainda com pintura, e, na década de 1970, estávamos juntos em Brasília, reivindicando uma solução para o problema de liberação de importação de material de trabalho."
Trechos do depoimento para o livro Iberê Camargo, publicado pela Funarte, pelo Instituto Nacional de Artes Plásticas e pelo MARGS, em 1985.