Numa tarde qualquer, vê-se um homem que atravessa uma rua empurrando um carrinho e, ao fundo, a fachada de uma casa de dois andares e o sol, flutuando como uma bola de fogo no céu. Cenas do cotidiano estiveram sempre presentes na obra de Goeldi e a xilogravura sempre foi, entre as técnicas da gravura, a sua preferida. Da superfície da madeira ele soube extrair todo o seu potencial, trabalhando-a com gestos firmes e seguros para criar suas cenas. A tinta preta prevaleceu durante muitos anos na impressão das gravuras e a cor foi uma experiência introduzida aos poucos e que passou, depois de um tempo, a ser também um meio expressivo de sua arte. Nessa obra, em contraste com o negro profundo e o branco, provocado pela ausência da tinta no papel, o vermelho aparece de uma forma marcante. Essa xilogravura foi uma tiragem especial feita para a Sociedade Amigos da Gravura, criada em 1952 por Raymundo Ottoni de Castro Maya, com o objetivo de incentivar o trabalho gráfico no Brasil e acompanhava os exemplares do Álbum Goeldi, prefaciado por Aníbal Machado, e publicado pelo Ministério da Educação e Cultura em 1955.