O Mosteiro das Comendadeiras de Santos-o-Novo, na parte oriental
de Lisboa, junto a Xabregas, era um recolhimento onde se abrigavam,
após 1490, distintas viúvas e filhas de cavaleiros da Ordem de
Santiago de Espada. A mãe do grão-mestre dos Espatários, D. Ana
de Mendonça, era aí comendadeira no tempo em que a capela-mor
da igreja recebeu este retábulo, por certo encomendado por ela
ou pelo filho, D. Jorge de Lencastre (1481-1550), filho natural do rei
D. João II. O pintor a quem os painéis do retábulo são atribuídos,
Gregório Lopes, detinha também estreitas ligações com D. Jorge,
que excecionalmente o havia distinguido, já em 1520, com o estatuto
de Cavaleiro de Santiago.
As pinturas deste retábulo têm claras afinidades com as que Lopes
fez, cerca de 1535-1540, para a Charola do Convento de Cristo
(duas estão expostas nesta sala) e para a igreja de São João Batista
de Tomar. Nelas revelam-se novas preocupações quanto à relação
das figuras com o espaço, aumentando a profundidade cénica
de cada representação, e a adoção sistemática de arquiteturas ditas
«ao romano», entendidas como reportório de um «classicismo» que
profusamente se estende aos elementos de ourivesaria e de armaria.
Nele reflete-se, também, um gosto especial pela animação dos fundos,
trabalhados com pinceladas soltas e construtivas, e pela sofisticação
do movimento dos tecidos. No Mosteiro de Santos-o-Novo, conservam-se
fragmentos de um Calvário que deverá ter pertencido à fiada superior
deste retábulo.