A paisagem, austera e dolorosa, representa um degelo de grandes proporções ocorrido junto ao Sena, na região de Vétheuil, a oeste de Paris, nos primeiros dias de Janeiro de 1880. Faz parte de uma série de dezoito obras executadas pelo pintor no local, que constituem a sua resposta visual perante o brutal acontecimento. A beleza glacial da natureza invernosa, interpretada a diferentes horas do dia, sujeita a variações de perspetiva e luz, impõe-se como o tema central desse conjunto de pinturas, que variam entre paisagens onde a devastação é mais evidente, como neste caso, e obras de vocação mais tranquila.
Escassa na cor e sumária na definição da solidez incipiente do gelo quebrado e das árvores devastadas, a obra resulta de uma observação cuidada, directa e sistemática de elementos esboçados ao ar livre, tendo sido objeto, por certo, de finalização em estúdio. Ao recorrer a uma pincelada larga, entrecortada e inventiva, Monet concilia nesta composição princípios impressionistas fundamentais – espontaneidade, sensação pura, efeito fugidio – com o rigor formal de uma estrutura espacial lúcida, complexa e ordenada.