Março de 1958. Agenor se queixou de fortes dores lombares em quatro visitas consecutivas à emergência do hospital que, ciente de seus hábitos hipocondríacos, o aconselhou que voltasse para casa com alguns analgéticos. Na quarta visita, foram feitas radiografias, que não apresentaram anomalias em nenhum órgão, osso ou músculo. Uma semana mais tarde, voltou com febre alta e sinais positivos de insuficiência de órgãos. O quadro clínico do paciente orientou a equipe médica, chefiada por Dr. Emilio Bonelli, à realização de uma cirurgia de urgência. Para a surpresa do corpo cirúrgico, foram encontrados dois cálculos massivos, um em cada rim, que prolongou de forma não antecipada, o tempo e a complexidade do procedimento contribuindo para a eventual perda do paciente, que sucumbiu a uma infecção generalizada pouco após a cirurgia. Com um relatório, as pedras extraídas dos rins de Agenor foram encaminhadas ao legista, que imediatamente contatou o Dr. Bonelli, dizendo que a vasilha onde supostamente deveriam estar os cálculos, encontrava-se vazia. O médico constatou que, embora realmente fosse impossível ver qualquer coisa dentro do recipiente, havia ali um ruído de algo sólido presente, quando se agitava o vidro. Pelo exame deste material, Dr. Emilio Bonelli concluiu que a compulsão aguda de Agenor por doenças, havia somatizado a materialização de dois objetos de propriedades materiais, porém invisíveis ao olho humano, cujo contorno só se tornava discernível quando imersos em líquido. A incrível descoberta, tema de palestra no III Congresso de Nefrologia na Academia Paulista de Medicina, tomou conta da impressa especializada e popular que ridicularizou-a, gerando grande constrangimento para a diretoria do hospital, que exigiu dos médicos, sob ameaça de demissão, que arquivasse o caso permanentemente e não comentasse com mais ninguém. Estes documentos, assim como as pedras, foram encontrados, em 2013, em um cofre subterrâneo, aqui, neste hospital.