Francesco Guardi representa nesta composição, na qual se avista a ponta de Santa Marta e o canal da Giudecca, uma Veneza periférica povoada de pormenores que narram a vida quotidiana da população local, motivo através do qual o pintor exprimiu de forma particularmente conseguida a sua imensa sensibilidade artística. Este distanciamento relativamente ao lado faustoso de outras pinturas da sua autoria, das quais o Museu Calouste Gulbenkian possui excelentes exemplos (as «Feste», sobretudo), proporcionou a Guardi, pela óbvia informalidade do tema, concentrar-se na representação de um amanhecer enevoado, onde a atmosfera feérica do canal toma posse de toda a superfície pictórica.
Na cena prevalecem tonalidades prateadas e azuladas, surgindo as formas mais distantes, embarcações e silhuetas de edifícios, diluídas em leves pinceladas monocromáticas. A humidade da lagoa e o céu acinzentado fazem lembrar a arte do holandês Jan van Goyen. Francesco Guardi faz ainda uso do «sfumato», uma conceção de luz com interferência direta na intensidade do contraste existente entre os objetos representados e o espaço envolvente, produzindo-se a partir desse artifício técnico um fenómeno ótico através do qual cor e contornos se atenuam e se dissolvem.
Tem interesse em Visual arts?
Receba atualizações com a sua Culture Weekly personalizada
Está tudo pronto!
O seu primeiro canal Culture Weekly chega esta semana.