Uma envolvência atmosférica, triste e brumosa, identifica a Bretanha, local adoptivo de Souza Pinto, representando a face melancólica da sua obra, que aos recantos ensolarados de Portugal, especialmente em Benfica, onde tinha morada, se opunha. Após a sua estada em França como bolseiro (1880) oscila entre duas sensações de luz diferenciadas, reguladas pelos aspectos climáticos de cada uma destas zonas.
O tema, sombrio pela dramaticidade sentimental e algo cenográfica dada à disposição das figuras e dos signos que o identificam (destroços do barco e âncora), remete para uma lamentada tradição marítima, representada pelas mulheres de pescadores, provavelmente da costa da Bretanha.
Esteticamente, Barco desaparecido revela uma marcação para-impressionista, desempenhada fundamentalmente pela névoa que envolve a composição, apesar de se inscrever numa linha de convencionalismo formal que o contorno figurativo não dilui. Em tonalidades suaves, próximas do pastel, técnica que utilizaria habilmente, o pintor desenvolve um naturalismo tardio e ecléctico, influenciado por Bastien-Lepage, Julien Breton ou Albert Besnard, numa cena de grande contenção cromática e mutismo das personagens. (Maria Aires Silveira)