Falar de impressionismo a propósito deste óleo seria abusivo. A apontar ascendentes, eles seriam Manet e E. Boudin. Assim, a metade esquerda do quadro exibe uma pincelada mais solta expressiva, especialmente nas ondas. A água, o céu, a areia perdem as qualidades intrínsecas para revelarem a pintura como pintura pura. Uma vela interrompe a linha do horizonte, contrabalançando as bandeiras que, no lado direito flutuam sobre o branco das barracas onde o contraste deste com o negro das sombras evoca a memória de Manet. As figuras mais pormenorizadas que no areal contemplam o mar envoltas numa penumbra sob a claridade, mais se assemelham às das praias de Deauville e Trouville que Boudin pintou. Com este magnífico quadro a pintura portuguesa oitocentista com a vanguarda assume uma primeira expressão consentânea internacional, ainda que episódica, onde a própria pintura se fez signo consciente de uma desmesura inerente a si mesma, enquanto interrogação e criação das condições pictóricas do visível.(Pedro Lapa)