Jorge Barradas (n. 1894 - m. 1971), pintor e ilustrador do Modernismo português, foi um dos artistas responsáveis pela renovação do interesse pela cerâmica, garantindo-lhe o estatuto de disciplina artística moderna. Assumindo o estatuto de arte tradicional, identificativa da cultura portuguesa, o azulejo foi ganhando nova importância no contexto de encomendas destinadas a espaços públicos, abandonando as recriações, cada vez menos espontâneas, de temas e modelos barrocos, rococós e neoclássicos. Nesta representação dos três Reis que se dirigem a Belém, para adorar o Menino, é patente a experiência de Jorge Barradas como ilustrador, no modo como o desenho surge vincadamente contornado e colorido com cores densas. O desenho é executado com traços finos na criação de volumetrias ou sombreados, tal como seria caso estivéssemos perante uma imagem em papel, a que a saturação cromática nos mesmos locais acrescenta maior intencionalidade. Os Reis Magos surgem representados a cavalo, em planos sucessivos, mas desviados entre si de forma a ocupar toda a composição. O motivo, nitidamente inspirado em referentes saídos da pintura italiana, tem alguma afinidade com o quadro renascentista do mesmo tema, pintado por Benozzo Gozzoli ( n. 1421 – m.1497), onde alguns dos retratados olham diretamente o observador. Este mesmo artifício é utilizado por Jorge Barradas neste painel, colocando Gaspar, em segundo plano, a encarar-nos endereçando um convite mudo, secundado pelo gesto de Baltazar, atrás. Foi apresentado pela primeira vez em 1945, na exposição de "Faianças Artísticas" de Jorge Barradas.